"O Agrimensor contribui com a paz social através da determinação de limites."

Estação total posicionada sobre tripé realizando levantamento planialtimétrico em área de escavação, com marcações de campo visíveis e relevo acidentado ao fundo, utilizada para medições topográficas de precisão em obras de engenharia civil.

1) O que é

 É medir a profundidade de rios, lagos, represas, canais e do mar para desenhar o fundo e saber onde é raso ou fundo.


Base técnica:
Levantamento hidrográfico que determina profundidades (Z) e posições (X/Y) do leito submerso, produzindo cartas batimétricas, isóbatas e modelos digitais do fundo.

2) Onde se aplica

Portos/canais (dragagem, manutenção), represas (assoreamento), rios (navegação e obras), lagoas (projetos e licenças).

Base técnica:
Suporte a dragagens e volumes, projetos de pontes e barragens, monitoramento de assoreamento, segurança da navegação, estudos hidrológicos e ambientais.

3) Como se mede a profundidade

Um equipamento manda um pulso na água, o som bate no fundo e volta. O sistema calcula a profundidade pelo tempo de ida e volta.


Base técnica:
Ecossonda (singlebeam/multibeam) mede tempo de viagem do pulso; profundidade = v⋅t2\frac{v \cdot t}{2}2v⋅t​, onde v é a velocidade do som na água (precisa de correção).

4) Sensores principais

  • Ecossonda monofeixe (um raio por vez),
  • Multifeixe (varre uma faixa larga),
  • LiDAR batimétrico (laser verde, do ar, quando a água é clara).

 

Base técnica:
Singlebeam: perfis ao longo de linhas de sondagem. Multibeam: feixes com largura de varredura (swath) e ângulos controlados; requer IMU (rolagem/picada/guinada) e perfil de velocidade do som. LiDAR batimétrico: laser green penetra coluna d’água; sensível a turbidez.

5) Posicionamento e atitude

Usa-se GPS/RTK para saber onde o barco está; um sensor mede balanço do barco para corrigir.


Base técnica:
GNSS RTK/PPK para X/Y (e Z elipsoidal quando aplicável) e IMU/MRU para heave, roll, pitch, yaw. Integração via patch test (latência, offsets e alinhamentos).

6) Velocidade do som na água (fundamental!)

 A água fria/quente e doce/salgada muda a velocidade do som. Se não ajustar, a profundidade sai errada.


Base técnica:
Medir com SVP/CTD (perfil de T, S, P) e aplicar correções na aquisição/processamento (ray tracing em multifeixe; correção simples em monofeixe).

7) Nível da água e datum vertical

 A maré (ou nível da represa) sobe e desce. É preciso corrigir as medidas para um nível de referência.


Base técnica:
Redução a datum vertical: uso de marégrafo/regua de nível + modelo de maré, ou GNSS + geóide para transformar altura elipsoidal em cota ortométrica; aplicar curvas de maré ou water level dinâmico conforme o caso.

9) Singlebeam x Multibeam

  • Singlebeam: mais simples e barato; mede linhas.
  • Multibeam: cobre faixas largas; muito mais pontos.

 

Base técnica:
Singlebeam: maior dependência de densidade de linhas; ótimo para seções e rios estreitos. Multibeam: requer IMU+SVP, calibração (patch test) e processamento avançado; ideal para portos/canais e mapeamento total.

10) Segurança e operação

Usar colete, checar clima/vento, avisar a capitania, levar rádio e itens de bordo.


Base técnica:
Plano de HSE: meteorologia/hidrologia, bateria/combustível, rotas seguras, balizamento, limites de velocidade, lista de EPIs, resgate e manobras de risco.

11) Calibrações e verificações

 Antes de começar, checar o zero da ecossonda e se os sensores estão “conversando”.


Base técnica:

  • Bar check (prumo/placa a profundidades conhecidas).
  • Patch test (latência, roll, pitch, yaw) em multifeixe.
  • Constantes: offsets de antena, transdutor e IMU; latency de todos os streams.

11) Apresentação cartográfica

  • Curvas mestras mais grossas e com cota escrita.
  • Cores que ajudem a ler o relevo.


Base técnica:

  • Equidistância indicada no quadro (ex.: “Curvas a cada 1,0 m; mestras a cada 5,0 m”).
  • Espessuras/hierarquia visual (mestra, intermediária).
  • Rótulos nas mestras, orientação do texto montante-jusante.
  • Legenda, escala, norte, carimbo (RT, ART/RRT, SR/projeção, data).

12) Execução em campo (fluxo)

  1. Medição do som na água,
  2. Configurar sensores,
  3. Navegar as linhas,
  4. Registrar nível d’água,
  5. Salvar dados.

 

Base técnica:
SVP/CTD inicial e intermediário, navegação nas linhas com QA online (cobertura, SNR, número de feixes/ping), log de nível/maré, backup de RAW (sounding + GNSS + IMU + SVP).

13) Processamento

 Limpar erros, corrigir nível da água e gerar o mapa de profundidades.


Base técnica:
Aplicar tide/water level, velocidade do som, heave/roll/pitch/yaw, filtragem (despike) e classificação. Gridding (TIN/raster) com cell-size compatível e controle de TVU/THU (incerteza).

14) Qualidade e padrões (QA/QC)

Conferir com linhas cruzadas e pontos checados.


Base técnica:
Relatar erros quadráticos (TVU/THU), RMSE, cobertura efetiva, diferenças main lines x cross lines; documentar equipamentos, offsets, SRs, datum vertical e SVPs usados.

15) Produtos e entregáveis

  • Carta batimétrica (mapa com profundidades),
  • Curvas/isóbatas,
  • Seções/perfis,
  • Modelo 3D e volumes (dragagem/assoreamento),
  • Relatório.

 

Base técnica:
Grid (XYZ/ASCII, GeoTIFF), TIN/DTM, contours (SHP/DWG), perfis (CSV/PDF), volumetria (planilha), PDF em escala com carimbo (SR/projeção, datum vertical, SVP, incerteza), metadados completos.

16) Integração com topografia terrestre

 Juntar o mapa submerso com a topografia de margem para ver tudo junto.


Base técnica:
Amarração em SIRGAS2000/UTM + datum vertical coerente; linha d’água/berma como breakline; gerar modelo contínuo (terra + submerso) para projetos/volumes.

17) LiDAR batimétrico (quando faz sentido)

Quando a água é clara e a área é grande, o laser verde do avião/drone ajuda a mapear rápido.


Base técnica:
Sensível a turbidez, ondas, glint; limites de profundidade dependem de transparência. Precisa de GCPs/boresight e checagem com sondagens pontuais.

18) Complementares úteis

  • ADCP mede correntes/vazão;
  • Side-scan faz “foto” do fundo.

 

Base técnica:
ADCP (perfilador acústico) para dinâmica de fluxo e transporte de sedimentos; Side-scan sonar para textura/objetos do leito e inspeção de obras submersas.

19) Erros comuns (e como evitar)

  • Não medir a velocidade do som;
  • Esquecer maré/nível;
  • GNSS ruim;
  • Barco balançando sem correção.

 

Base técnica:
SVP desatualizado, datum vertical incoerente, multipath GNSS, IMU mal alinhada, patch test ausente, excesso de ruído/bolhas, gridding com cell-size incompatível.

20) Passo a passo prático (rota enxuta)

  1. Planeje as linhas,
  2. Meça som (SVP),
  3. Configure GNSS/IMU/ecossonda,
  4. Navegue as linhas,
  5. Corrija nível/son/sensores,
  6. Gere mapa/curvas/volumes,
  7. Entregue arquivos + relatório.

 

Base técnica:
Plano (linhas/cobertura) → SVP/CTD → aquisição (RAW sincronizados) → correções (tide, SV, attitude) → QA (cross-lines/TVU) → DTM/contours/volumes → documentação (SR, datum, offsets, incerteza).

21) Checklist final (copiar/colar)

  • Plano de linhas e cross-lines
  • SVP/CTD inicial e intermediários
  • GNSS RTK/PPK + IMU calibrada (patch test feito)
  • Registro do nível (maré/regua/GNSS+geóide) e datum vertical definido
  • Bar check / verificações da ecossonda
  • RAW sincronizados (som + GNSS + IMU + SVP) e backup
  • Processamento com correções completas e QA/QC (TVU/THU, cross-lines)
  • Entregas: DTM/TIN + isóbatas + perfis + volumes + relatório com metadados e ART/RRT

22) Resumo

Som na água medido + nível corrigido + sensores calibrados = batimetria que bate com a realidade.


Base técnica:

  • SVP + datum vertical coerentes, GNSS/IMU integrados e patch test;
  • QA/QC com cross-lines e incerteza (TVU/THU) documentada;
  • Entregas padronizadas (DTM/isóbatas/perfis/volumes) com metadados completos.